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Como se foi tornando hábito, aproveito o final de tarde de domingo para me sentar no escritório da casa a preparar os trabalhos da semana.
Como banda sonora hoje optei pela música brasileira.
Entretanto a necessidade de um copo de água leva-me à cozinha, mas, para contrariar hábitos, regresso ao escritório pela varanda.
Num repente o luar de uma lua ainda incompleta, traz-me a lembrança da esperança em sonhos nunca atingidos.
Foi curioso, uma espécie de memória mas sem associação a nada de específico.
A recordação de um sentir que me abandonou há alguns anos, talvez.
Acabei por me encostar ao parapeito a olhar o silêncio do bairro, a sentir o cheiro da noite húmida, a ouvir a cor da vida dos vizinhos que me alcança pelas suas janelas entreabertas.
Lembrei sonhos dos meus 15, 20, 30, 40 anos.
Num exercício inconsciente, deixei-me inundar daquela nostalgia esquecida, de quem procura ainda acreditar.
Pela porta aberta do escritório, vinha o som suave do Samba da Bênção, tão a propósito.
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida
Palavras sábias, que só um poeta sabe encontrar.
Terminar o disco, regresso ao trabalho.
Com noção clara de algo em mim que já não é.
A ferida aberta de uma saudade que não se apaga.
Saudade de mim, de ti, de tanta coisa que já morreu
E da parte de mim que partiu com esse fim.
Quiquera