Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Foi estranho de tão natural.
Estava sentada, frente ao computador, ao lado a aparelhagem tocava uma canção ouvida centenas de vezes. Uma canção banal, não das que trazem recordações.
Lentamente fui acompanhando a letra e foi quando aconteceu.
Senti-a, lenta e quente, a deslizar pela face: uma lágrima grossa.
Fiquei espantada! Eu, que só chorei em dois funerais na minha vida adulta, chorava agora com uma canção banal.
Ter-me-ia tornado sensível?
Lembrei um dia em que, chegada da escola, encontrei a minha mãe deitada na cama, lágrimas copiosas a construir rios pela face fora. Ela a olhar o teto.
Perguntei se estava tudo bem
"Sim" respondeu "é só a música que é tão bonita".
Lembro da minha descrença traduzida no pensamento "outra discussão com o pai" e ir para a cozinha lanchar.
Eu teria uns 14 anos, a minha mãe uns 50.
Tal como eu, que choro agora com música, 50 anos.
Concluo então que a questão não é a música, ou a sensibilidade. É a idade que nos retira algum travão às emoções.
É então isto a pré-terceira idade. Uma espécie de segunda adolescência, mas carregada de experiências e no lugar dos sonhos vão surgindo recordações regadas a lágrimas que correm sem vergonha ou razão lógica.
Quiquera